sábado, 14 de fevereiro de 2009

O silêncio

Bom, a minha foto continua passeando por aí -pelo menos no meu pc- mas isso não é capaz de tirar a minha inspiração, graças a Deus... Hoje está um dia perfeito, ensolarado e com um ventinho frio que faz todos meus sinos de vento cantarem, formando uma verdadeira sinfonia que enche meu coração de alegria e paz. Há poucos dias assim em nossas vidas, então vou aproveitá-lo ao máximo, vou sair para caminhar, vou respirar fundo, vou olhar longe, vou espiar o vôo dos pássaros no céu e escrever muito, muito...
"O silêncio.
Distingo os sons: celulares, motores, televisões, buzinas, máquinas de lavar, serras, esguichos de mangueira, alarmes, computadores, rádios, vozes, alto-falantes, fogos de artifício... Olho em minha volta e penso: "Nossa, quanto barulho temos criado ao longo do tempo! Como conseguimos suportá-lo?"... E o pior é que parece que achamos que não é o suficiente e continuamos a criar mais e mais! Mas, o que significam estes sons? O que eles nos trazem, afinal? São mesmo arautos do futuro, do progresso, da inteligência do homem, do seu poder e felicidade? Conseguimos verdadeiramente pensar, sentir, agir em meio a este concerto desafinado e ensurdecedor?... A pesar de tudo isto, a natureza continua a soltar suas notas de vida, mas acredito que muito poucos conseguem ouvi-las e desfrutá-las, muito menos compreendê-las. Mas para que foi feito o som senão para estimular a nossa percepção, a nossa sensibilidade, a nossa vontade de descobrir e experimentar, para aprender a nos comunicar e, através desta fala, nos unir e compartilhar os milagres da existência?... No entanto, ao invés disso, o som nos aturde, nos embrutece, nos deixa surdos.
O silêncio é sagrado, indispensável, deve ser um exercício diário -pelo menos alguns minutos cada dia- pois é somente nele que escutamos as falas da nossa alma. Temos que praticar o silêncio dos conventos, onde só se ouvem os sons indispensáveis para não perturbar o diálogo com o divino; o silêncio dos campos, dos bosques e desertos, das montanhas, onde só o espírito da criação fala e revela seus segredos. Tem gente que acha que silêncio é sinônimo de morte, de estagnação, de inatividade e o evita a todo custo, mas na verdade ele é rico e poderoso, cheio de vida, de equilíbrio e serenidade, cualidades que tanto precisamos em nosso dia-a-dia... Há que estar em silêncio para poder ouvir; ouvir a voz dos dos homens, dos animais, das plantas, das pedras, das águas e do vento, da chuva, da chaleira fervendo no fogo, da risada nos nossos filhos, dos conselhos dos nossos avós, porque essa é a linguagem da criação, a fala original, que não perturba o silêncio em que a alma deve estar para escutar e compreender a voz de Deus.
Meu encontro revelador e definitivo com o silêncio aconteceu numa tarde em que, sem ter nada para fazer, decidimos pegar o carro e sair rodando por aí, só para matar o tempo... Depois de um certo tempo, já cansados, paramos no meio do caminho, numa estrada secudária pouco movimentada. A viagem não tinha sido longa, mas já estávamos meio entrevados e com calor... O motor silenciou, e foi como uma explosão ao contrário. Meus ouvidos zuniam com o eco do seu ronronar. Abrimos as portas e descemos, corpo mole, boca seca. Estávamos rodeados de plantações de milho, soja e feijão: tapetes verdes que ondulavam feito um oceano sob o impulso caprichoso do vento. Umas casinhas ao longe, currais, tratores vermelhos e amarelos parados, cachorros, galinhas, patos, vacas pastando... E o silêncio. Esta sensação magnífica, esmagadora, que parecia crescer em nossa volta feito uma onda gigantesca e sobrenatural. Eu conseguia ouvir o vento passando pelos pés de milho, o canto dos pássaros aqui e lá -quantos pássaros!- as cigarras, o murmúrio de um riacho correndo por perto. Eram sons tão claros e próximos que fiquei até espantada diante desta clareza e proximidade... De repente, uma infinidade de sensações e lembranças vieram à minha mente, um cheiro verde e ardido invadiu as minhas narinas, as cores da paisagem tornaram-se fulgurantes. Tudo parecia tocar-me dizer-me alguma coisa... Sim, a quietude que me envolvia e da qual tinha plena e maravilhada consciência, me penetrava de alguma forma, impregnando-me, revelando-me uma outra realidade, percorrendo-me com uma vibração essencial, vital, quase instintiva, que parecia se alastrar pela paisagem em todas direções... Espantada, me perguntei se os outros estariam sentindo a mesma coisa. Me virei e olhei para eles. Também pareciam meio anonadados, impressionados, os olhos arregalados indo daqui para lá... Então, me perguntei como foi que chegamos a tal grau de poluição sonora que o simples silêncio do campo -como todos seus sons- podia nos deixar tão impressionados e pasmos... "Os nossos sentidos estão tão atordoados, sufocados, insensibilizados pelas nossas próprias invenções e barulhos que não sabem mais se manifestar no silêncio", conclui, "Mas, do que é que estamos querendo fugir, nos esconder?...", me perguntei em seguida, desconcertada. Mas não houve resposta.
Após alguns minutos, voltamos para o carro, o ronco do motor tornou a tomar conta da paisagem e seguimos a nossa viagem... Sinceramente, eu teria continuado caminhando, adentrando mais e mais nas plantações, no silêncio mágico dessa natureza, até que ele tomasse conta de mim por completo, até ele calar todas as inutilidades no meu coração e na minha mente.
O nosso passei oacabou um par de horas mais tarde e regressamos ao barulho e a azáfama do dia-a-dia, mas eu ainda guardo comigo uma pincelada daquele silêncio magnífico e me refugio sem medo nele toda vez que desejo encontrar a mim mesma.

2 comentários:

DANIELA BUZETI disse...

Paz,sensacional, li as três últimas de uma só vez pois ainda não as tinha lido, sinto que agora posso dormir, principalmente pela crônico do Tilzinho do Picolé e da casa enfeitada (que acho eu que ela fica na Rua Primeiro de maio, perto do Bar do Direu) estou certa?
Me fez tão bem, você nem imagina o quanto!!!
Fique em Paz e nunca pare de escrever!!!!
Sua Eterna Fã!!!

D Z disse...

Oi Paz,

Semana passada lembrei de vc rsrs Estávamos lendo um texto na aula de espanhol e adivinha só o nome da personagem??? Paz... rsrs

Vi que vc também tem um blog em espanhol, legal, qualquer dia vou ler seu texto por lá...

Sobre este texto:


Sabe, amo o silêncio... Quando era criança sentava no portão em frente de casa e ficava observando as estrelas, curtindo o silêncio da noite... O horário que mais gosto para escrever, ler e estudar é sempre a noite, quando a tv já foi desligada, todos estão dormindo e eu, enfim, posso desfrutar do silêncio...

Tenha um ótimo feriado prolongado...

Bjssssss

Dany Z.