quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

 Quase o último dia do ano. A última semana... Esperança? Medo? Frustração? Tristeza? Emoção?... O que foi, já foi, agora é a chance de recomeçar, de renovar, de criar novos caminhos e percorre-los com coragem e otimismo. Serao diferentes? Serao uma nova versão? Não sabemos ainda, mas tem que tentar. Eu já comecei o meu e pretendo seguir em frente, mesmo se existirão percalços. Não importa, o negócio é estar ali, vivo e vibrante, conectado. Estar, ser. Isso sim é um feliz ano novo!

 

 

     Existe melhor forma de redimir-nos, de realizar-nos, de encontrar-nos do que através das nossas ações? E se este agir envolve o amor, melhor então. Amar o que fazemos. Fazer o que amamos... Os três bailarinos no filme “One last dance”, com o Patrick Shwayze, sua esposa Lisa Niemi e o George de la Peña, naquela derradeira coreografia na qual todas as mágoas e frustrações, os medos e dores foram lavados no esforço, no suor, nos movimentos sentidos na alma, me emocionaram profundamente, pois percebi como realizar nossa vocação pode nos curar, nos erguer, nos purificar e transformar. Nos santifica porque sempre há um toque divino nela. È onde melhor nos expressamos, onde mais nos entregamos, onde nos doamos sem limites. Aqueles bailarinos já maduros, com menos performance física, e mesmo assim indo para o palco reencontrar suas verdades, me ensinaram que sempre há tempo, sempre há chance, sempre há espírito para alcançar o objetivo da realização, da cura, da felicidade. Porque esse é o nosso destino.

 

 

 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

 

    E chega o Natal mais uma vez, mas este tem um quê de derrota, de tristeza e incerteza, até de medo pelo futuro do nosso amado país depois destas eleições fajutas, lideradas por gente sem noção, sem história, presa a ideais sem sentido, fechadas num passado que já não existe e que eles tentam manter presente na mente do povo só para ter o gostinho da vingança sem sentido e do poder “roubado” deles durante trinta anos... Mas, merecem tê-lo?...

 

 

    Como é bom sentir os cheiros da vida! Roupa lavada, carne na panela, feijão, terra molhada, café, flores, pão, sopa, pipoca, bolo, grama... Venho pela rua e eles surgem, me envolvem, me despertam. Vêm de mansinho, ou como uma onda, desde as cozinhas, os quintais, as calçadas, as padarias e restaurantes, e eu respiro fundo, deixo que tomem conta de mim e me lembrem da vida ao meu redor, as coisas de cada dia, a doce rotina do homem e seu universo, a rotina da criação. E assim como os cheiros, os sons também me rodeiam e trazem a sinfonia da vida até mim: pássaros, motores, rádios, latidos, vozes, chuva, telefones, sinos... Cheiros, sons, movimento perpétuo e eu, tão viva quanto eles, tenho o dom maravilhoso de percebê-los.

 

domingo, 12 de dezembro de 2021

 

Caramba, e eu que achei que o inverno tinha acabado!... Faz alguns dias, 34 graus e um sol de fritar ovo, e  estes dois últimos nublado, ameaçando chover, frio, vento... Quem entende?... E depois tem gente que diz que não está passando nada com a mudança climática... Mas, para isso tenho uns cobertores, um aquecedor e muito chá quentinho, então, vamos trabalhar!.

 

    A paciência é uma virtude de muitas faces, pois é diferente em cada caso. Às vezes precisa ser lenta e persistente, outras silenciosa. Às vezes é necessário que fale, que pressione, outras, que deixe o outro livre. Algumas vezes tem de elogiar, outras cobrar, criticar. Pode incentivar, sugerir, ou então, permanecer quieta e permitir que a experiência aconteça sozinha... Paciência é espera, é amor, é percepção, é estar totalmente aberto ao tempo e ao movimento do outro, é acompanhar as suas evoluções, é ouvir, observar, esperar. Esperar sempre o melhor. Esperar a porta se abrir, a luz se acender, a mente compreender, a harmonia tomar conta do gesto. Adequar o nosso ritmo ao ritmo do outro, as nossas palavras, as nossas expectativas. Ver com os olhos do outro, trabalhar com a energia do outro.

Ser paciente é sair de nós mesmos e sermos o outro, visto com nossos olhos e com os olhos dele. É o equilíbrio entre estes dois olhares.

 

 

 

domingo, 5 de dezembro de 2021

 

   Hoje vai ser fogo, literalmente... Trinta e três graus sem nenhuma nuvenzinha no céu!. Pelo menos há um vento agora pela manhã, ainda fresco, mas o sol já começa a espalhar seu calor sufocante. Nem quero imaginar como vai estar às quatro da tarde, quando eu acordar da minha soneca e sente pra pintar!.... Bom, pelo menos o calor será puro, sem poluição, e os pássaros continuarão a cantar e voar, a paisagem verde e o céu azul... Isso já compensa o sufoco...

 

 

Quem é meu mestre?... Acredito que cada um que cruza meu caminho. Todos têm algo a me ensinar, pois em todos eles vive a faísca divina, o próprio Deus. Por isso não só é verdade que “Aquilo que fizeste ao menor dos meus, é a Mim a quem fizeste”, mas também: “Aquilo que o menor dos Teus me fez, foste Tu quem fez”.

   Todos[  somos mestres uns dos outro. Assumindo-o ou não, todos possuímos um bem que ilumina os outros, todos temos o dom de ensinar. Porém, devemos ter e cultivar também o dom da humildade, que nos possibilita aprender dos nossos irmãos. Ser um mestre é tão importante quanto ser um discípulo. Só aprendendo é que poderemos ensinar. Somos uns complementos dos outros. Criaturas únicas, construídas do saber universal que se mostra, mas não se impõe. A diversidade é infinita entre mestres e alunos, por isso a sua sabedoria é infinita também.

Aprendamos a vocação do mestre, porém, pratiquemos primeiro a vocação de aluno.


domingo, 28 de novembro de 2021

 

    Estou sendo repetitiva, eu sei disso, mas realmente não desejo pra ninguém uma artrite reumatoide nas mãos... Hoje quase não estou conseguindo mexer no teclado de tão travadas e doloridas que estão!... Mas, como a vontade de botar pra fora toda esta maravilhosa inspiração que me rodeia e tenho dentro de mim é tão grande e imperativa, cá estou, sentada em minha escrivaninha, escutando a canção do vento lá fora e os pássaros ao redor, respirando fundo e cumprindo a minha vocação... E mais tarde vou pintar!...

 

    Quais são os milagres que iluminam a nossa vida? Pois são tudo aquilo que nos rodeia: o pão, a água, as flores, os pássaros, as nuvens, o trabalho, as conquistas, as lições, o mestre que subsiste em cada pessoa que encontramos. Pequenas e grandes descobertas, pequenas e grandes transformações, pequenos e grandes sucessos. As palavras, os olhares, os gestos. Pensar, entender, concluir, são milagres constantes que nos ajudam a crescer e a nos aproximar do divino que permeia cada segundo.

Neste instante pensemos no milagre que é a nossa vida e em como chegou a isso. É que os milagres se obtém, não são de graça, dependem da nossa fé, da nossa perseverança. Merecemos o milagre porque lutamos por ele, porque nos aventuramos –mesmo cheios de dúvida e dor, exauridos, magoados, vazios- no universo do novo, do que nos aguarda, daquilo que merecemos porque somos filhos de Deus.

 

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

 

    Bom, eu achava que ter um computador agonizante era ruim –apesar de que agora tem estado dez- mas na verdade, acho que pior é ter artrite reumatoide severa... A gente começa a escrever e depois de um tempo os dedos se “engatilham” e ficam travados... e aí acabou-se a inspiração e a capacidade física de continuar... Mas tudo bem. Eu sei que a tendência é ir piorando, porém, não vou me render e vou continuar escrevendo nem que tenha que  apertar as teclas com o nariz!. Então, vamos pra frente que atrás vem gente!

 

 

   É incrível como somos capazes de nos esquecer do óbvio, do essencial, que é o alicerce sobre o qual, afinal, construímos a nossa vida. E o mais engraçado é que por mais que nos compliquemos e nos disfarcemos e nos enchamos de regras, manias, conveniências, preconceitos, vaidades e ilusões, o óbvio continua ali, o essencial continua sendo essencial, o que é bom não muda e o que é mau sempre nos machuca, nos detém, nos deforma... Precisamos ter a consciência disto, não perdê-lo de vista, continuar usando-o para nortear a nossa existência, para impedir que ela se perca nas armadilhas que nós mesmos criamos. O óbvio, o simples, o essencial, são portas para os mistérios e as respostas da vida. Abrangem bem mais do que só aquilo que vemos o sentimos. O sobrenatural é essencial, é obvio, forma parte indivisível do aparentemente banal.

 

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

 

  Caramba, ter um computador com um vírus fatal, em estágio terminal, é foda. Tem tempo limitado para escrever, publicar e guardar coisas importantes, porque qualquer hora, puf! Se desconecta e a gente fica sem ter o que fazer, sem saber se o que estava escrevendo foi salvo ou não... Em fim, a coisa é respeitar a sua situação e aproveitar ao máximo o que lhe resta de vida até poder comprar um novo.

   Então, sem mais demoras, aqui vou, antes de que o coitado desmaie!

 

 

Libertar-se do velho, abandonar o peso morto. Não insistir no passado. Aprender a perder. Esta é uma verdadeira arte, uma virtude que não tem preço. A gente se agarra ao mal conhecido ao invés de se aventurar no desconhecido que, se vivenciado, não o será por muito tempo e assim deixará de ocasionar-nos dúvida e receio. A morte só vem uma vez e leva o que está morto, o que pertence ao seu domínio. Mas nós estamos vivos! Por que seguí-la, então? Nosso apego às coisas mortas é maior do que a vontade de viver, de buscar, de encontrar? O medo de não achar é grande, a falta de fé em nós mesmos aniquiladora, mas nunca se ouviu de alguém que procurasse e não encontrasse. O quê? Fracasso? Respostas? Uma vida nova?... Acho que isto depende de com que espírito procuramos e de que maneira interpretamos o nosso achado.

Nunca há “nada”. Sempre há “algo”. Até na espera por esse “algo” há esperança, ansiedade, perseverança, otimismo, se esperamos realmente por alguma coisa.

 

 

terça-feira, 2 de novembro de 2021

 

  Reencontros, família, lembranças, amor que nunca arrefece nem muda. Carinho sincero e profundo, sem preconceitos nem julgamentos... São laços indestrutíveis, que passam de geração em geração, e somos nós quem temos o dever, a missão de passá-los adiante, de ensiná-los, de vivenciá-los e partilhá-los com quem nos rodeia... E foi tudo isso que reaprendi neste final de semana, no casamento da filha do meu primo irmão, Cristián Labbé, a quem não via fazia alguns anos... Abençoadas sejam todas as famílias que permanecem unidas através das gerações...

 

 

    Vejo as árvores balançando suavemente, os galhos das trepadeiras, o mato nas datas vazias, as roupas coloridas no varal. Os sinos cantam, dançando sob o impulso do vento invisível. As folhas secas rolam pelas calçadas, as pipas piruetam no céu, as nuvens mudam de forma.Essa energia sem corpo, porém tão poderosa, vem e toca meu rosto, desordena meus cabelos, faz a minha saia ondular... Ele leva e traz, com seus mil sons e ritmos. Vento que varre oceanos, vales e montanhas que eu nunca vi e continua em movimento, sempre, como o tempo, que também transcorre para pessoas que não conheço, para acontecimentos que não testemunho. Tempo e vento, oniscientes, imutáveis. Ambos trazem mensagens, visões. Não se sabe de onde vêm nem para onde vão, invisíveis, poderosos, companheiros, inimigos. Imagino o vento trazendo o tempo, transcorrendo juntos, revelando-nos o futuro imediato, o movimento perene da vida, as suas constantes transformações.

O vento e o tempo passam por mim enquanto estou sentada aqui, escrevendo.

 

 

terça-feira, 26 de outubro de 2021

 É tanta música, tanta paisagem perfeita, tanta inspiração e vontade de fazer, que mal posso esperar a que o dia amanheça para começar a viver outro pouco e fazer muito... É quase abrumador, mas eu vou em frente, pois tanta beleza e inspiração não podem ser desperdiçadas, então, mais uma vez, agradecida por tudo, aqui vou!

    Volto da academia e ao virar a esquina me encontro com aquela criançadinha toda saindo do portão de duas casas vizinhas, de mãozinhas dadas, lideradas por uma menina um pouco mais velha que as outras. Estão numa alegria sem tamanho, rindo e gritando, pulando, despedindo-se das mães que, sonolentas e embrulhadas em seus casacos de lã, sorriem e fazem recomendações... Curiosa diante de tanta agitação e felicidade, diminuo o passo para saber o motivo. A fileira –com a maior no meio dela, importante e séria na sua missão- passa por mim, chamando um último menino que ficou para atrás. Quanta emoção em seus rostinhos! Olhos brilhantes, corações acelerados, pernas numa pressa cheia de expectativa. “Qual é a aventura?”, me pergunto, contagiada pela sua ansiedade. Então escuto uma das mãe avisar: “Se o parquinho estiver fechado vocês voltam e não ficam zanzando por aí,ouviu?”... O parquinho, na pequena praça a dois quarteirões, virando a esquina... Sorrio, afastando-me do grupo buliçoso. E lá vão eles, rumo a sua aventura, passando por lugares desconhecidos, encontrando estranhos, espiando aqueles monstros de quatro rodas que reinam absolutos e assustadores no asfalto preto e brilhante. Lá se vão, vibrando naquela sensação impagável de estar crescendo, enfrentando a vida e seus desafios, nessa gloriosa independência dos pais, naquele hálito trêmulo de sair para procurar a felicidade, a realização...Hoje nos brinquedos do parquinho de areia a dois quarteirões de casa. Amanhã, na festa no clube. Depois, na faculdade. No trabalho, ainda mais distante e desafiador. No amor, quando parece que todos os laços com o passado se rompem... Enquanto procuro a chave no meu bolso, me pergunto se conservamos sempre aquela alegria virgem e original, aquela emoção risonha e cheia de otimismo diante da aventura do desconhecido, ou se preferimos encarar nosso futuro cheios de medo e pessimismo, sem fé em nossa capacidade de sair adiante... Enfio a chave na fechadura e a faço girar. Ela emite um estalo e a porta se destranca. Pero, penso: “É o som do futuro que se avizinha e só eu tenho o poder e a vontade de fazê-lo acontecer.”... E meu coração volta à imagem daquelas crianças,de mãos dadas, rostos brilhantes e cheios de alegre pressa, a caminho da sua aventura. E penso que é assim mesmo que eu quero abrir a porta e entrar em tudo aquilo que me aguarda. 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

 

A que somos fiéis? A idéias, a pessoas, a lutas, a religiões, a sonhos, a missões. Mas, acima de tudo, somos fiéis ao amor, que nos faz carregar todas estas bandeiras que sustentam e dão forma às nossas ações. Cada um tem se ser fiel àquilo que escolheu. E esta escolha deve ser sempre permeada pelo amor. Assim,  a nossa fidelidade dará frutos que todos poderão comer.

 

 

 

Fico olhando os rostos, as roupas, as poses, as paisagens urbanas ou rurais atrás das pessoas às vezes sérias, às vezes sorrindo. Expressões em preto e branco, algo sério e distante, outros tempos, outras histórias, outros conceitos, talvez os mesmos sonhos de felicidade... As fotografias antigas me dão aquela sensação de realidade extraordinária, de encarar pessoas e lugares que nunca conheci e que não existem mais. É, de certa forma, como olhar para a morte, para algo remoto, porém tão real como eu mesma,hoje, aqui. Porque eles tiveram seu presente também, e foi tão real e cheio de vida e acontecimentos quanto o meu! Não é estranho o passado nos assaltando assim, tão atual e concreto, através de uma fotografia? Quanto podemos descobrir o imaginar olhando para ela?... Me pergunto: quando alguém olhar para uma fotografia minha, quanto da minha verdade irá desvendar? O que estarei dizendo para aqueles que olharem para mim no futuro?

 

 

 

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

 

Dia de milagres? De revelações? De inspiração e felicidade? Dia de reencontro, de perdão, de gratidão?... Acho que tudo isso junto e ainda mais, que nem consigo traduzir... Até parecia o dia do meu aniversário!... Abram bem os olhos do corpo, da mente e da alma e verão do que estou falando.

   Meio misterioso, né?... Mas façam a prova e depois me contam...

 

Sempre me chamou a atenção esta frase anônima: “Não há que buscar novas paisagens e sim olhar a paisagem com novos olhos”. Me parecia um pouco desconcertante, como se o conselho fosse permanecer parado, sem ir à procura de novos horizontes na vida. Era uma frase digna de ser publicada e conhecida? E fiquei pensando nela. Venho pensando dela desde que a li numa folha de papel pregada na parede das salas da Fundação Cultural. Quem a tinha imprimido e colocado ali? Com que intuito?... Sem resposta.

Mas então, aconteceu que outro dia voltava do centro no fim da tarde, por aquela mesma rua de sempre, quando não sei por quê, decidi atravessar e vir caminhando pela outra calçada. Primeiro não percebi nada, mas depois de andar alguns metros, ergui os olhos e os deitei pela rua a baixo. Que surpresa! Uma visão totalmente diferente, nova, da velha rua, se descortinou diante de mim! Parei, totalmente surpresa. Como eram distintas as coisas desde este outro ângulo! As sombras, as árvores e as casas, a perspectiva das outras ruas perpendiculares, dos jardins, das cores... Até os sons pareciam ter nuances diferentes! Estava pasma. Mudar o ângulo –os olhos- muda realmente a paisagem. Tudo é novo, tem outras dimensões, você enxerga o que não via da outra posição. Todos os conceitos se reformulam, segredos são revelados, a nossa própria postura muda... Velha paisagem, novos olhos, transformação. Compreendi então aquela frase da folha na parede. Não há que cansar-se de olhar, pois a paisagem possui mil nuances e lições que somente com novos olhos, nova disposição, poderemos enxergar e aproveitar. A rotina é assassina. Nos esmaga, nos embrutece, mas somos nós mesmos que permitimos que nasça, cresça e se instale em nossas vidas, aniquilando-as, roubando-lhes a alegria, o frescor, a criatividade, a percepção, a inocência, tornando-nos velhos parados se enfastiados, sem esperança.

Olhar a vida cada dia como o milagre e a diversidade que ela é, é um tônico para a saúde e o crescimento da alma. Basta uma piscada e tudo terá mudado, inclusive nós mesmos.

 

 

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

 

Hoje sinto que dei um passo atrás... mas no melhor  dos sentidos. Após tanto tempo, um que achei que jamais acabaria, volto a ser eu ao escrever, e vocês sabem que para mim, esta vocação, assim como compor, coreografar ou desenhar, é a mais importante de todas elas, pois é a que mais me ajuda a entender, a decifrar, a aprender e desfrutar tudo que tem dentro de mim e a compartilhá-lo com vocês e todos os que me rodeiam... Início de primavera, renascimento, reencontro... As revelações, os caminhos e a felicidade me aguardam, junto com a verdadeira paz!... Como diz meu nome...

 

 

Me pergunto até que ponto alguém pode ser capaz de mudar para ser amado, valorizado, aceito. Quanto de nós aceitamos sacrificar, esconder, aniquilar para não nos ver isolados, para não sermos abandonados? Que preço ousamos pagar para não sermos julgados ou condenados, criticados?... A coerência entre o que somos e o que aparentamos em prol da estima e o elogio dos demais é nula. Somos dois seres em eterno conflito, cheios de dúvidas, de lutas sem trégua, de choques e contradições por conta dessa incoerência... E como queremos, como precisamos ser amados para podermos sobreviver! Como nos dói o desprezo e a indiferença dos outros! Como é doce o afago, o elogio, o sorriso, a aprovação, o calor da sociedade!.

E agora me pergunto: não seria melhor mudar para amar ao invés de para ser amado? Que enorme diferença! O melhor de nós viria à tona, faríamos tanto bem, chegaríamos tão longe! Ganharíamos infinitamente mais do que só sendo amados. Mudar para amar não mutila, dá asas. Não dói, nos faz florescer. Nos integra, nos identifica, nos aquece, nos purifica. Nos salva.

Amar e ser amado: um conseqüência do outro.

 

domingo, 12 de setembro de 2021

 

Bom, eu tinha dito que o Sr. Inverno tinha se cansado e estava a fim de ir embora, mas parece que ainda quis dar um último sinal de vida este fim de semana e nos brindou com uma tempestade de chuva e vento –que ainda continua hoje e amanhã de manhã- mas não me intimida, não. Continuo feliz de estar aqui e de viver o que estou vivendo... Voltar a ser quem eu era e a ter o que meu espírito tinha de magia e inspiração, de percepção e comunicação não tem preço. Então, Mr. Inverno, pode continuar com seus alardes que não vou lhe entregar a minha felicidade nem que um raio caia no meu quintal!...

 

Vou cedo para o centro. Sábado de manhã. Contas para pagar. Está um frescor mais de primavera do que de outono. Brisa perfumada, céu azul... As manhãs têm um quê de renovação, de promessa, de inocência e vigor que sempre me encanta, por isso gosto de levantar cedo, para pegar esta vibração generosa e vital que se espalha pelas ruas, pelos jardins, pelas casas e lojas onde os vizinhos lavam as calçadas, esfregando-as com vassoura e detergente. O ar fica ainda mais perfumado, úmido, limpo como o chão. A água leva embora o dia anterior e a sua azáfama, sacode os restos de noite, alonga o milagre do amanhecer desconhecido... Lavar a calçada cada manhã é como um ritual e todos parecem tão animados e empenhados esfregando e enxaguando! Se cumprimentam, cheios de otimismo, se desejam boas coisas, se animam mutuamente para viver este novo dia. É contagiante... Respiro fundo e sorrio, olhando meu reflexo nas poças de água da calçada. A minha alma parece lavada também, renovada, perfumada, revigorada. Vejo na rua o que também podemos fazer em nosso coração: limpá-lo, renova-lo, enfeitá-lo a cada dia, esquecendo as mágoas e dores do dia anterior e a escuridão da noite. Fazê-lo viver numa eterna manhã, cheio de fé e inocência.

A calçada lavada, ainda molhada, é o caminho de cada momento.

 

 

 

domingo, 29 de agosto de 2021

 

Bem, parece que finalmente o Sr. Inverno cansou depois dessa última semana de fortes chuvas e está querendo se retirar para seu merecido descanso... Tanta chuva foi meio chato, mas a terra acalmou a sua sede, o ar ficou mais limpo, se cabe (porque em Santiago o ar “ limpo” durava só até o meio dia. Depois voltava aquela feia nuvem cinzenta e sufocante) o sol começa a brilhar mais cedo, novos passarinhos me acordam com seu canto pelas manhãs e o céu é de um azul escandaloso!... Enfim, a beleza deste lugar está sempre presente, mas quando vai chegando a primavera ou o outono, é simplesmente de tirar o fôlego!... Não posso estar mais feliz.

 

Olhando pela janela do segundo andar, enquanto me alongo junto com os outros alunos ao som de uma música suave, reparo de repente na copa da árvore que cresce diante dela, mas desta vez com um olhar  diferente. Sempre me coloco em frente da janela para ver o movimento na rua, os pássaros, o vento balançando os galhos, as folhas dançando. Isto me ajuda a pensar e também a esquecer as dores do esforço físico. Assim, olho continuamente para esta árvore, a conheço bem, mas hoje percebo algo diferente: está toda cheia de novas folhas e brotos que logo se abrirão. Algumas flores já se mostram, tímidas, nos galhos mais expostos ao sol. Porém, olhando melhor, posso distinguir outras mais ocultas no meio da folhagem escura e quieta. Também ali está cheio de brotos  brancos e rosa. As flores vão se abrir e mostrar a sua beleza mesmo escondidas, e darão a sua contribuição à formosura da árvore apesar de não serem vistas por ninguém. Mas florescerão, sem dúvida. Cada galho terá suas flores, não importa se conseguimos enxergá-las.

Pisquei várias vezes, fascinada diante desta revelação. Pois, não é assim conosco também? As nossas qualidades podem florescer não importa onde estejamos, nem o que façamos. E não porque não enxergamos as qualidades no outro quer dizer que ele não as têm. Como podemos ver os galhos escondidos desde um único ângulo? Haveria que ver a árvore em sua totalidade para poder descobrir e apreciar toda sua beleza. O esplendor às vezes se oculta aos nossos olhos, por isso não podemos julgar e menos condenar ninguém. Quem sabe ele só aparece aos olhos de Deus?...

terça-feira, 17 de agosto de 2021

 

    Chuva, chuva, chuva... Pequenas gotas escorrendo pelo vidro, primeiro separadas, aos poucos se juntando, formando um caminho novo, novas formas, movimentos inesperados, porém belos... Juntos, penso, com apoio e carinho podemos ter surpresas sensacionais, capazes de mudar por completo a nossa existência, como aconteceu comigo graças à minha filha e seu noivo, meu filho, minhas cadelinhas, a nossa adorável e eficiente faxineira María, estes vizinhos... Enfim, o que mais posso dizer?...

    Continua chovendo. Vai chover a semana toda, mas em não me importo porque vou ter longas conversas com essas gotinhas na minha janela...

 

 Que tipo de pessoa quero ser? Daquelas que erguem os outros, ou daquelas que destroem seus sonhos, suas ações, suas opiniões e trabalhos?... Se tivéssemos real consciência do que a nossa intervenção pode acarretar para a vida dos outros, com certeza seríamos bem mais cuidadosos. Mas somos, pelo contrário, tão desleixados em nossas atitudes, tratando os outros como estranhos com os quais não temos nenhum vínculo! Nossa compaixão está sepultada sob o peso destruidor do nosso egoísmo, da nossa vaidade, do nosso orgulho, da nossa ambição. Assim como as ações de outros às vezes podem nos derrubar, assim também devemos pensar que as nossas podem até destruir alguém se não tomarmos cuidado. Por que não ter pelos sonhos dos outros a mesma ternura e consideração que temos pelos nossos? Por acaso não estão todos interligados em algum ponto da nossa história? No fundo, não são todos a mesma coisa? Todos os caminhos que escolhemos pretendem levar-nos a um mesmo fim: o amor. E o primeiro passo deste caminho pode muito bem ser o apoio, o carinho e a cumplicidade que os nossos irmãos precisam para começar sua própria caminhada.

 

 

 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

 Não pensem que esqueci de escrever... Não, é que meu pc estava –de novo- no conserto, e agora, -FINALMENTE- está totalmente atualizado, moderno, veloz e tudo mais... Agora sou eu quem tem que se atualizar e aprender a escrever de novo!...

 

 

                                       “NADA NA MENTE”

                                         

“Nada na mente”, diz o menino para o aprendiz de samurai, querendo significar que ele tem de se concentrar somente na sua espada de bambu, nos movimentos do seu adversário e nos seus próprios e esquecer todo o resto. O aprendiz obedece, fecha os olhos e todo seu espírito e seu corpo se centram na espada e no adversário. A luta recomeça e, neste estado de consciência, o aprendiz consegue, pela primeira vez, derrotar o mestre.

Dois ou três dias após ter assistido o filme “O último samurai”, e em meio a uma conversa com uma aluna, veio à minha mente esta cena, e as palavras do menino. E de repente entendi o que é aquele movimento interior voluntário, aquele piscar que faz toda a diferença quando se está observando algo ou alguém. “Nada na mente”. Paramos de prestar atenção no que nos rodeia e passamos a nos concentrar unicamente numa coisa, numa ação, numa pessoa. E é nesse estado de consciência que conseguimos ser o outro, viver o outro, compreender o outro. Saímos de nós mesmos e do nosso próprio universo com seus pequenos dramas e alegrias e entramos voluntariamente no universo do outro para enxergá-lo claramente, para escutá-lo, para percebê-lo em sua real dimensão: a sua humanidade. Acredito que é assim que Deus nos enxerga: como o milagre que somos.

 

 

 

  

quarta-feira, 14 de julho de 2021

 

A PAREDE VIVA

 

    Nossa, hoje quase esqueci de escrever a “Introducao da mina postagem de hoje! Assim estou de empolgada por compartilhar com vocês as minhas experiências e licoes… Isto eu escrevi quando ainda morava em meu amado Santiago, quando a gente podía passear, curtir a paisagem, as pessoas, a tranqüilidade, a história. Pena que pouco depois virou o que virou: bombas, protestos, disparos, sirenes,  desorden e medo… Só espero que algum dia mina cidade volte a ser o que era, mas do jeito que a coisa vai, duvido muito. Talvez contemple este milagre desde o céu…

 

O lugar ficava em Santiago, Chile, na rua Amunategui quase ao chegar em Agustinas, onde o viento fazia o que bem queria com as arvores, os vestidos, as sacolas plásticas, cabelos y chapéus. Era um enorme estacionamento de muros azul celeste e uma grade preta muito torta e enferrujada. Tinha o chao com pedregulho, limpo e liso, uma casinha de madeira com um tanque e um banheiro, um pequeno depósito para guardar pneus e as vagas de estacionamentos, tambén de madeira, com seus respectivos números pintados em preto, todos muito limpos e organizados. Um impressionante e algo desvencilhado portao guardava a entrada.

    Estava rodeado por prédios altos –probávelmente construidos depois- mas sem janelas, só muros cinzas y nús, con marcas de vigas e tijolos. Pareciam gigantes ameacadores pairando sobre o pacífico e arrumado lugar, inmóveis y calados, como esperando para lhe cair encima a cualquier momento.

    E era assim em outono e inverno. Porém, quando a primavera comecava a se anunciar com seus brotos y perfumes, tudo se transformava. Quase nao dava para percebê-lo durante a época fría, porém, assim que chegava Setembro comecavam a aparecer  nessas rudas paredes que circundavan o estacionamento umas pequenas manchinhas verdes que, aos poucos, alentadas pelo sol e o calor, crescían e se transformavam em folhas que se deixavan escorregar pelo concreto, formando uma cascata assombrosa e gigantesca que quase cobría por completo os muros e a grade, caindo graciosamente sobre o telhado dos estacionamentos y balancando-se plácida e brincalhona à mercê do vento.

    Era uma trepadeira de idade incerta, que alguma vez alguém plantou nalgúm canto do terreno e que no inverno, seca y abatida, se tornava quase invisível sobre o cimento dos altos muros, mas que quando sentía chegar a forca e a alegría da primavera explodia, crescía, tomava conta de todo o lugar. Ninguém sabía onde comecava ou terminava, mas alí estava cada ano enfeitando a rigidez inexpugnável daquelas paredes mortas, fazendo seu milagre… Entao, elas estavan vivas y ondulantes, sussurrando beleza e dancando harmonía.

    E dava um gosto passar naquela esquina, porque a gente tambén se sentía vivo!

 

 

                            

 

quinta-feira, 8 de julho de 2021

                                                                  CARIDADE



               Sei que tinha dito que iria  comecar a publicar com regularidade, mas estas duas últimas semanas tem sido uma locura. ¡Nunca tirei a roupa tantas vezes em tao pouco tempo!... Esclarecendo: estive fazendo todo tipo de exames médicos que estavam atrasados porque em Santiago nao se podía nem salir na sacada, entao passei mais tempo em consultórios que no meu escritório... Ainda bem que inspiración nao faltou e tenho bastantes anotacoes pra desenvolver aquí, entao... ¡Tudo volta ao normal!... 

 

    Contar as vezes ao longo do dia em que faltamos à caridade nos deixaria espantados, de tantas como seriam... Cómo somos cheios de mesquinharias, de egoísmos, de más intenções e pensamentos, de inveja e preguiça! Estes detalhes que nem percebemos enchem nossos universos de pequenos espinhos, de pedregulho, de dores que depois nos assolam com uma força impressionante. O esforço de um pequeno sacrifício não é tanto e a sua recompensa é imensa. Praticar a caridade é um exercício, um aprendizado inestimável, é o caminho do crescimento. É um minuto, dois três. É um gesto, um olhar, uma palavra. É a intenção que está no secreto do nosso coração. É concentrar-se no ato de amar, pois é ao amar que nos sentimos amados.

domingo, 20 de junho de 2021

                                               ESTAR SOZINHA


         O que é estar sozinha?... É assustador, irritante, triste, chato, deprimente?... Pois eu digo que, se vc está bem, é sensacional. Vc pode fazer, dizer, escutar, sentir o que vc bem quiser. O silêncio, a música, ou a tv sao amigos, nao disfarces nem esconderijos. Sao inspiracao, verdade. Te abracam e te aconchegam feito uma mae se vc deixar, se vc se mistura com eles, se vc permitir que te dissolvam num interminável suspiro de aceitacao, de renovacao constante... Acreditem, sei do que estou falando.
                 Isto nao está sendo tirado do meu diário nem tem borrador, estou escrevendo aqui, agora, após quase um ano de silêncio, tristeza, medo e culpa... Por quê? Pois por Santiago, minha amada cidade, que se transformou num inferno -e que acho já nao tem mais salvacao- nao só por esta pandemia, mas por todo o resto. Precisava  comecar num outro lugar, precisava me salvar do terror e a depressao. Nao podia continuar pesando 38 quilos e sofrendo ataques de pânico... Nao, isso nao é viver. Viver é agora -mesmo se ainda me falta um pouquinho pra me acostumar.- É que parece que ainda nao acredito!- aqui, nesta nova cidade (Santa Cruz, é até simbólico!) no campo, rodeada por uma natureza espetacular, por pessoas verdadeiras, compatriotas, honestas, consideradas. Olho à minha volta e vejo essas montanhas que me rodéiam (estamos no Vale de Colchagua, ao sul de Santiago) e sao tao acolhedoras que até me fazem esquecer daquela sede que eu tinha de ver a cordilheira, fora que já nao estava dando pra enxergar nada pela poluicao, as bombas, os incêndios, as manifestacoes, o gas lacrimogêneo, os gritos, os disparos... Bom, para que continuar, né?... A coisa é que gracas à minha filha e seu noivo, que me trouxeram pra cá, estou sendo capaz de recomecar, de redescobrir, de querer de novo, de me sentir útil, inspirada, leve, maravilhada e conectada com o universo como antigamente. Aqui tem centenas de pássaros (aos quais voltei a jogar paozinho todo día cedo) arvores que parecem uma pintura, flores de milhares de cores e formas, feiras cheias de comida fresca e barata, vento, cachorros, bons vecinos, jardins e pracas. Até voltei a roubar galhos e flôres pros meus vasos!... Aqui vc faz uma obra de arte com quatro galhos e algumas flôres, pois a variedade e a beleza parecem infinitas...
   Bom, aos poucos irei contando pra vocês o que acontece por aqui. Mas esta postagem, na verdade, é para anunciar que meus blogs estao em acao desde hoje, pois tenho muito pra contar. Estou rodeada de coisas, paisajens, pessoas e animais que mantêm a minha inspiracao a mil!... Só a deixo passar às vezes porque me da preguica subir ao meu estúdio, mas também é culpa desta maldita artrite reumatóide, inimiga quase mortal de escadas... coisa de velha... Mas, cá estou, vivinha e abanando o rabo e com mais ânimo do que  nunca!... A gente se vê!