terça-feira, 26 de outubro de 2021

 É tanta música, tanta paisagem perfeita, tanta inspiração e vontade de fazer, que mal posso esperar a que o dia amanheça para começar a viver outro pouco e fazer muito... É quase abrumador, mas eu vou em frente, pois tanta beleza e inspiração não podem ser desperdiçadas, então, mais uma vez, agradecida por tudo, aqui vou!

    Volto da academia e ao virar a esquina me encontro com aquela criançadinha toda saindo do portão de duas casas vizinhas, de mãozinhas dadas, lideradas por uma menina um pouco mais velha que as outras. Estão numa alegria sem tamanho, rindo e gritando, pulando, despedindo-se das mães que, sonolentas e embrulhadas em seus casacos de lã, sorriem e fazem recomendações... Curiosa diante de tanta agitação e felicidade, diminuo o passo para saber o motivo. A fileira –com a maior no meio dela, importante e séria na sua missão- passa por mim, chamando um último menino que ficou para atrás. Quanta emoção em seus rostinhos! Olhos brilhantes, corações acelerados, pernas numa pressa cheia de expectativa. “Qual é a aventura?”, me pergunto, contagiada pela sua ansiedade. Então escuto uma das mãe avisar: “Se o parquinho estiver fechado vocês voltam e não ficam zanzando por aí,ouviu?”... O parquinho, na pequena praça a dois quarteirões, virando a esquina... Sorrio, afastando-me do grupo buliçoso. E lá vão eles, rumo a sua aventura, passando por lugares desconhecidos, encontrando estranhos, espiando aqueles monstros de quatro rodas que reinam absolutos e assustadores no asfalto preto e brilhante. Lá se vão, vibrando naquela sensação impagável de estar crescendo, enfrentando a vida e seus desafios, nessa gloriosa independência dos pais, naquele hálito trêmulo de sair para procurar a felicidade, a realização...Hoje nos brinquedos do parquinho de areia a dois quarteirões de casa. Amanhã, na festa no clube. Depois, na faculdade. No trabalho, ainda mais distante e desafiador. No amor, quando parece que todos os laços com o passado se rompem... Enquanto procuro a chave no meu bolso, me pergunto se conservamos sempre aquela alegria virgem e original, aquela emoção risonha e cheia de otimismo diante da aventura do desconhecido, ou se preferimos encarar nosso futuro cheios de medo e pessimismo, sem fé em nossa capacidade de sair adiante... Enfio a chave na fechadura e a faço girar. Ela emite um estalo e a porta se destranca. Pero, penso: “É o som do futuro que se avizinha e só eu tenho o poder e a vontade de fazê-lo acontecer.”... E meu coração volta à imagem daquelas crianças,de mãos dadas, rostos brilhantes e cheios de alegre pressa, a caminho da sua aventura. E penso que é assim mesmo que eu quero abrir a porta e entrar em tudo aquilo que me aguarda. 

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