Ainda não bati meu recorde diário, mas aqui vai a terceira de hoje:
Está tendo um evento no cine teatro e eu estou na cozinha tomando meu café da manhã (hoje não deu tempo de tomar em casa, o despertador decidiu folgar e me fazer pular esbaforida da cama), sentada no único canto vazio da mesa com meu copo de chá e minhas bolachas e observando a azáfama em minha volta... Há as pessoas importantes, que subirão no palco para dar suas palestras. Há os organizadores, que correm atrás das coisas burocráticas e práticas para que o evento dê certo. Há o iluminador, que fica sentado na cabine lá em cima e põe toda a parafernália do teatro para funcionar a fim de amparar o palestrante. Há as recepcionistas na porta, elegantemente trajadas, maquiadas e penteadas, que têm de entregar os programas e recepcionar e conduzir às autoridades aos seus respectivos lugares com extrema polidez e um sorriso encantador à flor de lábios. Há o decorador, que perde o sonho planejando a decoração dos arranjos de flores nas mesas, no palco e em lugares estratégicos do saguão de entrada, escolhendo a cor das toalhas, dispondo os panéis com fotos e cartazes. Há a nutricionista, que confecciona o cardápio que será servido no intervalo e supervisiona o pessoal da cozinha. Também há as cozinheiras, que estão aqui ao meu lado, correndo e suando, de avental branco e touca, e que cortam sem descanso pãezinhos, tomates, alface, presunto, queijo; misturam atum e maionese, coam café, fervem chá, enchem jarras e mais jarras de sucos coloridos e gelo, enxáguam copos e xícaras, pratos, facas, colheres, jarras e bandejas. E finalmente, estão as zeladoras e os serventes, carregando suas vassouras, pás, mangueiras, enxadas, baldes e panos molhados, encarregados de manter o local brilhante e perfumado, os banheiros com sabonete e toalhas limpas, papel higiênico e pias secas... Todo mundo parece tremendamente ocupado com as coisas que têm a ver com a sua área do evento e cada uma delas se torna a mais importante para quem nela trabalha. As cozinheiras nem pensam no nervosismo das recepcionistas. O palestrante não imagina a dor de cabeça que os organizadores estão tendo para solucionar os imprevistos que podem fazer da sua apresentação um fracasso. Ninguém se preocupa com a agonia do decorador vendo seus arranjos desmanchados e suas toalhas sujadas por aquele bando de convidados esfomeados e aparentemente sem nenhuma educação. Ninguém se lembra das costas enrijecidas do iluminador, sentado horas a fio naquela cadeira incômoda...
Olho para esta espécie de guerra silenciosa e feroz à minha volta e me pergunto se isto é trabalhar em equipe. Fazer somente a sua parte, sem se preocupar com a dos outros, vai facilitar o trabalho? Ocupar-se unicamente da sua área com eficiência fará mesmo com que tudo corra direito?Olhar só para o próprio objetivo resultará no sucesso geral do evento? Núcleos agindo separados podem ser chamados de um todo perfeito?... No entanto, no fim, uns vão aproveitar o trabalho e a eficiência dos outros para obter o resultado esperado por todos, então, estão interligados quer queiram, quer não. Uns dependem dos outros -apesar de digladiar-se no mesmo campo de batalha- para que tudo funcione harmoniosamente.
Nâo importa quanto queiramos separar-nos, sempre permaneceremos ligados uns as outros de alguma forma, dependeremos uns dos outros, precisaremos uns dos outros, pois estarmos juntos não significa só partilhar o mesmo espaço, mas o mesmo objetivo e o mesmo amor.
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