Bom, meu coracao já está sarando e mato a saudade olhando as fotos que tiramos quando meu filho esteve aqui. Ainda bem que conseguiram consertar meu computador, entao me distraio batendo papo com os amigos, vendo as notícias e as postagens engracadas, escrevendo e lendo um livro muito interessante que a minha irma me enviou. Intitula-se "Morrer para ser eu" e narra a experiência de quase morte de uma mulher indiana, fato que lhe trouxe muitas revelacoes que agora compartilha com os demais... Nao digo que contém grandes novidades, pois sao licoes, atitudes e nocoes que, na verdade, já sao conhecidas por muitos, mas que sao dificilmente praticadas pelos mais diversos motivos. É que nao é fácil desapegar-se de tudo que temos aprendido, de tudo aquilo no qual temos nos apoiado ao longo da nossa vida, daquelas crencas, protótipos, atitudes, conceitos e preconceitos e, acima de tudo, dos medos que normalmente dominam a nossa existência. Nós nao percebemos, porém, se examinamos à fundo nosso comportamento, as nossas decisoes e opcoes, vamos perceber que a maior parte delas estao determinadas pelo medo de alguma coisa: rejeicao, fracasso, doenca, morte, pobreza, ridículo... É um leque imenso de temores, dos mais simples aos mais complexos, mas que se permitirmos que nos dominem, podem acabar deixando-nos doentes e até matar-nos. A nossa pior praga é a de nao amar a nós mesmos, a de sermos severos demais e nao perdonar-nos, a de nao apoiar-nos e dar-nos confianca para perseguir as nossas verdades. E, no fundo, tenho certeza de que todos sabemos quais sao elas e quao felizes e completos nos fariam, mas... Precisamos comecar a trabalhar nisto se realmente desejamos que este mundo mude e melhore de verdade.
E muito inspirada e compassiva com as minhas neuroses e crencas castradoras -inclusive aquelas que já nao me servem mais- aqui vai a crônica da semana. Depois, vou continuar a meditar sobre isto para encontrar -ou pelo menos tentar- meu caminho nesta vida... Putz, a introducao vai sair mais longa do que a crônica!
Acho que nas grandes metrópolis o silêncio é uma coisa que nao existe. A nao ser, é claro, que se fechem todas as portas e janelas e que estas tenham um sistema anti-ruído, ou que a gente bote um par de tampones de ouvidos realmente eficientes, caso contrário, o barulho está sempre presente. Nao sei se ainda é assim nos bairros mais afastados do centro. Na rua da minha infância havia um silêncio agradável e acolhedor que abracava a gente assim que virava a esquina desde avenida e o acompanhava gentilmente até em casa. Dava para escutar nossos pensamentos e perceber as nossas emocioes com uma clareza impressionante e sincera... Mas aqui, bem no centro, onde moro hoje, se escuta sempre aquele murmúrio, aquela espécie de fragor abafado e constante, como se a cidade quisesse nos lembrar da sua presenca, seu tamanho, seu poder. Às vezes parece um mar, outras o vento, outras uma chuva torrencial. Em alguns momentos nos embala feito uma cancao de ninar, em outros nos mantém acordados, atentos, curiosos, expectantes. É um ronco composto pelo motor dos veículos, pelas vozes das pessoas, o estrondo das construcoes, o latido dos cachorros, as sirenes, apitos, buzinas, passos, portas, rádios e os espetáculos de rua... Parece que até os pensamentos, sentimentos e intencoes de todos nós fazem parte desta sinfonía. Nos chama, nos envolve, nos amedronta, nos seduz. É conhecida e estranha ao mesmo tempo, arrasta o passado em direcao ao futuro. Às vezes nos traz lembrancas e nos faz sorrir, como quando escutamos um realejo numa rua próxima. Outras nos sobressalta e nos preocupa com as sirenes e seu grito de urgência e tragédia...
No fundo, a cordilheira é a única que se mantém em silêncio. Desde seus picos nevados nos contempla e cuida de nós, silenciando em suas alturas este discurso interminável que a cidade pronuncia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário