sábado, 3 de janeiro de 2009

Decisões

Tomar decisões, fazer promessas, encher-se de planos e jurar mudanças, esta é a nossa primeira atitude quando à meia-noite do dia 31 os fogos começam a estourar e a iluminar o céu com seus belos desenhos coloridos. A minha cadela, a "Talitha", quase tem um ataque cardiaco e não sabe mais onde se esconder, caminhando incessantemente por todos os quartos da casa, tremendo e babando e com a expressão de quem enfrenta o próprio fim do mundo. O "Arthur" era um pouco mais corajoso, mas nos últimos tempos, quando eu saía para a rua olhar os fogos, ele ficava na porta, latindo feito um louco e olhando para mim como se eu tivesse perdido a razão.
-O que você está fazendo lá fora????? Não sabe que pode morrer?- parecia dizer, abanando o rabo e com as orelhas em pé (fato extraordinário nele)
Mas eu continuava lá, com os olhos fixos no céu escuro, maravilhando-me a cada explosão, prometendo mil coisas para o ano que entrava e rindo do seu medo.
Este ano não foi diferente -a não ser pelo fato desolador dele não estar no umbral latindo e fazendo a sua dança para eu voltar para dentro- porém, não prometi tanta coisa; me ative as mais essenciais (quando a gente envelhece acontece esse tipo de coisa. Você aprende a distinguir o que é verdadeiramente importante) como pagar as minha dívidas, comprar um novo computador e uma gaveteira, porque a minha já está se desmanchando, literalmente, mas, acima de tudo, prometi cuidar melhor da minha saúde -olha que diabetes não é brincadeira, e menos na minha idade- encontrar uma boa secretária, me aproximar mais do meu marido e continuar a escrever e a trabalhar com o mesmo entusiasmo de sempre. Prometi, mais uma vez, ser feliz e fazer os outros felizes dentro do possível e não me amedrontar por desafios (como meu novo chefe) decepções ou dificuldades. Acho que isto engloba um monte de coisas, de atitudes e decisões que irão aparecendo pelo caminho e que aguardo com uma ansiedade até positiva.
Nisto pensava enquanto escrevia em meu diário dois dias depois -que como vocês sabem, é de onde saem estas crônicas- e no fim resultou um texto tão legal, que decidi transcrevê-lo aqui, para que vocês aproveitem ele da forma que queiram.

"Tomar decisões e levá-las adiante, não importa quão difíceis possam parecer uma vez passada a primeira empolgação, é algo que faz tão bem quanto dizer adeus a quem nunca mais veremos, pôr os pontos nos "i" num relacionamento, resolver situações que ficaram pela metade, se poupar de momentos desagradáveis e curtir cada pequeno milagre do dia-a-dia. Esquecer o passado, tentar reconciliações sem condições, enviar mensagens sem cobranças nem acusações, se aproximar, lavar a alma com palavras sinceras e positivas, agradecer, dizer que percebemos o que o outro faz de bom por nós, que nos importamos, que desejamos a proximidade... Numa palavra: tentar. A grande mágica que faz a mudanças a contecerem em nossas vidas. Desfazer mal-entendidos é uma arte difícil e traiçoeira, sobretudo se somos nós mesmos a formar parte deles, mas se não fizermos sequer um movimento para nos aventurar nesta selva de silêncios, gestos e olhares sub-entendidos, de teorias e suposições não compartilhadas, no fim seremos tragados por ela e morreremos mastigando aquela maldita pergunta: "E se eu tivesse...?
Por isso não é bom começar um novo ano numa situação destas, carregando uma cruz que poderia ser deixada para atrás com algumas palavras, um gesto ou um abraço inesperado. Este ano vamos abrir portas, ventilar quartos, dar uma chance sincera a qualquer amor, a todos os amores, a esse amor que talvez ainda exista. Vamos renovar, abrir o coração, varrer os porões das mágoas e dúvidas, das dores caladas e dos dias solitários e assim nos sentir completos novamente.
Todos sabemos que ainda temos muito para dar, não só profissionalmente, mas principalmente como seres humanos, esposos, mães, amigos, irmãos, e sería um verdadeiro pecado se deixássemos que tudo isto se perdesse numa teia de receios e incertezas, de vontades reprimidas, de caminhos separados ou abismos sem pontes... Porque os abismos existem, sim, mas não para que paremos diante deles e fiquemos ali a nos lamentar e sim para que façamos o esforço de construir pontes que nos levem até o outro lado onde, quam sabe, algo maravilhoso nos aguarda.
Então, por que não dar uma chance ao destino, à fé, à história que nos uniu e nos deu tantas experiências -positivas e negativas- para que vivéssemos juntos e com elas crescêssemos e deixássemos o nosso legado?... É triste, muito triste o arrependimento, sobretudo quando não há mais tempo para corrigir os erros.
Por isso, não vamos começar este novo ano assim, distantes e calados, cada um só "na sua", cultivando dúvidas e mágoas que talvez só existam porque o nosso silêncio e a nossa inércia as regam todo dia.... Vamos falar, abraçar, rir, compartir, nos entregar, escutar, beijar, acreditar mais uma vez. Vamos ser felizes, é o nosso dever e o nosso direito!. É para isto que estamos aqui, então, acho que a nossa primeira promessa de ano novo deve ser esta: ser humanos e semear as nossas melhores qualidades sem importar os desafios, as decepções, os empecilhos ou as aparências. Ser humanos feito irmãos do mesmo sangue, com os mesmos sonhos e planos, com um único objetivo: ser felizes."

4 comentários:

D Z disse...

Olá Paz,

Sabe, concordo com tudo o que vc disse... é uma pena que me parece ser tão difícil transformar tudo isto em atos concretos...

Tenho certeza de me sentiria muito melhor se o fizesse, no entanto, ainda não sei como...

ótimo texto!

Uma semana abençoada para vc...

Bjsssssssss

Dany Z.

Paz Aldunate - Palavras disse...

Cara Dany:
Bom, o que vale é dar, pelo menos, o primeiro passo. Já é um começo que pode nos animar para continuar, mesmo se às vezes é tão difícil, sobretudo quando o outro não reage à nossa boa vontade. Mas isto não deve impedir-nos de continuar tentando, não é mesmo?
Mais uma vez, obrigada pelo seu comentário! Um abração!
PAZ

sol disse...

pacita,que texto esperançoso!se continuar pensando assim esse sera um ano muito produtivo!caramba,essa é minha diretora!!

Paz Aldunate - Palavras disse...

Solcita:
Saudade de vc!... Obrigado pelo seu comentário. Espero poder levar adiante todos estes propósitos, sobretudo agora que as coisas podem ficar meio difíceis para mim, vc sabe... Um abraço e vamos ver se nos encontramos, muiê!
Beijão
PAZ