Este final de semana fui atacada pelo vírus do: "e para que tudo isto?", o que me fez ficar meus três dias livres esparramada no sofá assistindo televisão e comendo ao invés de tentar produzir alguma coisa útil e decente, como faço todo final de semana. Mas, de vez em quando - e acredito que isto deve acontecer com todo mundo- sou vítima destas crises de desânimo e dúvidas com respeito ao que considero a minha missão neste planeta, e aí perco toda a vontade de continuar escrevendo, dando aulas ou enviando as crônicas para o jornal... Será coisa da idade (amanhã faço 53 anos!) da vaidade, da falta dos filhos, da saudade de uma paixão? Ou é coisa normal na raça dos artistas, que de vez em quando se vêem assaltados pelas dúvidas e a total falta de entusiasmo pela sua própria obra e pela mensagem que ela deveria passar para o mundo? Sei que todos precisamos passar pelo nosso Getsemani de vez em quando para acordar e perceber a beleza e a riqueza da vida, para sentir-nos gratos por ela e aproveitá-la da melhor forma possível, mas às vezes a noite fica realmente escura e, a não ser que sejamos donos de uma tremenda fé e otimismo, de uma força de vontade e persistência capazes de derrubar as aparências negativas que sempre estão rondando-nos, corremos o risco de ficar presos nela para sempre... Ainda bem que, em meu caso, estas crises não duram muito e a prova está aqui, pois mesmo atrasada e de resaca espiritual (e inspirada por um dia de clima e paisagem perfeitos, quase mágicos, após o final de semana chuvoso e cinzento) cá estou, digitando a crônica desta semana, meio dolorida porque inventei de voltar a fazer alongamento, mas cheia de novo ânimo e inspiração, disposta a enfrentar os desafios que me aguardam, pois sei que não são punições, mas lições que preciso aprender para crescer e me tornar mais sábia e assim poder fazer alguma diferença no mundo e na vida das pessoas, sem importar quantas, nem onde. O importante é que isto aconteça, pois é para isso que estamos aqui.
"Eli Stone"... É o nome de uma personagem cujo seriado -que eu assisto religiosamente todo domingo- leva este título e que, a despeito desta onda de violência, sexo, rivalidade descontrolada, beleza tiránica e glamour fabricado, desprezo pelos valores e pelas pessoas que tem ido se instalando aos poucos na programação da televisão, mostra histórias cheias de idealismo e honestidade, personagens com caráter e fé na verdade e no bem (apesar do protagonista afirmar que não acredita em Deus)... É algo pelo qual vale a pena deixar o frango assado esfriar ou a salada sem cortar para ir sentar no sofá da sala e prestar muita atenção, pois com certeza, quando estiverem passando os créditos, nosso coração terá sido acariciado pela bondade, algumas lágrimas e uma tremenda sensação de esperança e gratidão por quem teve a idéia de lançar um seriado assim. Sem dúvida seremos tomados pela emoção de perceber o que somos capazes de realizar em prol dos outros, apesar de todos nossos defeitos, pois Eli não é nenhum super-herói e está bem distante de ser perfeito. O mérito dele é, na verdade, acreditar e agir segundo seu coração lhe dita, mesmo se contradiz tudo que foi como pessoa até o momento em que descobriu ser portador de um aneurisma no cérebro que pode matá-lo a qualquer instante ou deixá-lo incapacitado feito um vegetal. A doença o faz ter visões reveladoras, que ele acaba descobrindo serem recados de Deus - quase sempre extremamente desconcertantes e engraçadas- sobre as pessoas, os casos em que trabalha e problemas da sua própria vida, o que às vezes faz com que tenha atitudes que deixam todos na firma de advogacia totalmente desconcertados ou irritados, isso sem falar nos comentários humilhantes, os olhares de zombaria ou ceticismo e as broncas que deve aturar por conta dessas suas visões. Seu chefe, um homem ganancioso, cheio de vaidade e sedento de poder e fama, está aos poucos sendo conquistado pelas atitudes do seu funcionário que, de um dia para outro, abandonou os clientes de prestígio e as jogadas desonestas e preferiu dedicar-se a trabalhar em casos pro-bono sem importar-se com o que poderia lhe acontecer, o que deixou o homem totalmente desconcertado e curioso. Manteve Eli na firma, mesmo sob condições humilhantes, sem sala nem secretária, nem sequer um telefone, como punição pela sua mudança drástica e repentina, que ele temia prejudicasse o prestígio da sua firma, talvez para tentar fazê-lo desistir pela falta de condições decentes para desenvolver seu trabalho, mas com o passar do tempo e diante das atitudes extremamente honestas e idealistas do Eli, da sua fidelidade e sinceridade para com o modo de vida que decidiu seguir, está começando a admirá-lo e defendê-lo diante dos outros sócios, que só caçoam do Eli e das suas visões e arrancos de caridade para com os injustiçados que não têm a quem acudir...
Em fim, a coisa é que já faz muitos anos que não sentava para assistir um seriado com tanto prazer e esperança, porque a cada capítulo, invariavelmente, recebo uma lição, um lembrete sobre a bondade de que somos capazes apesar de todos nossos defeitos, uma frase que fica martelando em minha cabeça e me faz refletir sobre o quanto estamos dispostos a sacrificar para seguir um ideal no qual realmente acreditamos. Há sempre algo sobre a valorização dos valores básicos, da verdade, da justiça, da fé e não raro acabo com os olhos cheios de lágrimas por conta de cenas ou diálogos que parecem ser dirigidos exclusivamente a mim... Tenho consciência de que, na verdade, o responsável por estas pequenas obras de arte de uma hora sobre espiritualidade e retidão não é precisamente o ator que encarna o protagonista, mas o roteirista que redige a história a cada semana. Sei que o ator foi cuidadosamente escolhido pela sua figura, sua voz e seu carisma, assim como seus coadjuvantes, cenários e todo mais que implica montar um seriado que vise atingir o público e virar um sucesso de crítica. Sei que talvez seja tudo friamente calculado para produzir este efeito, mas mesmo assim, gostaria muito de encontrar a pessoa que escreve os roteiros para dizer-lhe que, acredite ela ou não, Deus age das formas mais misteriosas -e por vezes engraçadas, tal como acontece com o protagonista do seu seriado- para se aproximar de nós e mandar-nos seus recados.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário