Bom, e para começar a recuperar o tempo perdido por causa de viroses, apresentações, ensaios e reuniões de todo tipo, visitas ao médico e à oficina técnica da loja de computadores, aqui vai a primeira crônica das que estou devendo-lhes. Hoje, amanhã e até quinta-feira da semana que vem ainda estarei bastante ocupada, pois, ao invés de sair de férias (mas podem continuar com inveja porque sairei na próxima sexta) como eu pensava, vou ter de apresentar uma peça para arrecadar dinheiro e pagar umas contas da fundação, porque o orçamento ficou curto este ano -coisas da oposição, dizem eles- e só sobramos nós para dar conta deste recado. Em todo caso, ao invés disto estar sendo algum tipo de punição extra, na verdade mais parece um presentão de natal porque, finalmente, estou fazendo aquilo que mais gosto: teatro adulto. Estou cansada (ando por aí durmindo em pé) com a glicemia disparada e uma anemia meio séria, mas estou completa e absurdamente feliz por esta chance bem no fim do que eu achei -e ainda acho- ser o pior ano que já vivi na fundação. Tudo parece estar se recompondo, voltando aos eixos, retomando o rumo lógico... Só espero que a coisa continue assim o ano que vem e que todo este esforço valha a pena. Em todo caso, de qualquer forma terei meu grupo de teatro de novo, o que vai compensar qualquer desgosto que possa aparecer... Como podem perceber, então, meu ano novo já começou, e da melhor forma possível!...
E aqui vai a primeira crônica, que foi publicada esta semana no jornal:
Olho em minha volta e percebo -suponho que como artista que sou- que é tudo uma grande, interminável e perfeita performance. Cenários, personagens e histórias transcorrem sem cessar; alguns são protagonistas, outros coadjuvantes, iluminadores, figurinistas, maquiadores. Algumas vezes somos público, outras atores; outras poucas nos aventuramos a escrever roteiros, a criar textos e viver personagens e ilusões que nem sempre acabam em aplausos ou elogios, nem nos tornam ricos ou famosos. Às vezes nos perdemos entre os cenários, as máscaras e a maquiagem, nos enganamos -e tentamos enganar os outros- com falas e marcações que não sentimos, esquecemos o diálogo. Nos deixamos seduzir pela luz dos holofotes, pelo barulho ensurdecedor dos aplausos, nos envolvemos numa história que não é a nossa.
Quase sempre esquecemos que o ator precisa ser dirigido por alguém mais sábio, precisa aprender, precisa adquirir técnica, desenvoltura, domínio, equilíbrio; precisa trabalhar a sua criatividade, a sua humanidade, tem que investir em seu talento com afinco e perseverança, pois um diamante sem lapidar é tão somente uma pedra e um ator que só decora e repete falas e gestos não passa de um papagaio. A terra é um palco de infinitos cenários pelos quais vamos passando, feito os personagens de um roteiro, nos quais interagimos, crescemos e temos a oportunidade de acrescentar preciosos detalhes à trama. Encontramos nesta história incontáveis ajudantes, protagonistas, mocinhos e bandidos, princesas em perigo, ladrões bons e rainhas más, nos deparamos com heróis e traidores, com sábios e idiotas, somos envolvidos pelo amor e pelo ódio, pela cobiça, pela compaixão, pelas mentiras que nos confundem e escurecem nosso caminho e pela verdade que tudo revela e tudo desimpede, mesmo diante dos maiores desafios.
Olho em volta e me sinto parte real e viva desta peça fantástica que é a existência, com todos seus altos e baixos, seus incontáveis finais e recomeços, suas mil faces e vozes, os encontros e desencontros, os fracassos e as vitórias, a glória e a miséria, e uma imensa onda de gratidão me arrasta para o seio infinito e cálido de Deus que, apesar de ser o criador e o diretor, sempre nos brinda a possibilidade de escolher nosso papel e de improvisar.
sábado, 12 de dezembro de 2009
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