terça-feira, 21 de setembro de 2010

A experiência do amor

Meio atrasada e sobrevivendo numa boa aos imprevistos da pré-estréia (por que será que algumas pessoas escolhem precisamente os momentos mais cruciais para terem ataques de estrelismo, conflitos psicológicos ou éticos ou para ficar exageradamente sensíveis com respeito ao comportamento dos colegas? Até parece algum tipo de "ritual de passagem" do qual não se pode fugir antes de cada estréia que se preze!) cá estou com a crônica da semana passada, da qual passei boa parte tentando dar um jeito nestes probleminhas chatos, sem muito sucesso, infelizmente... Bom, pelo menos todas as cartas foram colocadas na mesa e as posições de todos ficaram bem claras e definidas. Não teremos mais atitudes dúbias, maus entendidos, situações de estresse inúteis e gratuitas nem caras amarradas pelos cantos. Nâo foi nada agradável, mas pelo menos agora sabemos quais atitudes tomar para que as coisas se estabilizem e as apresentações corram sem maiores sobressaltos ou desgostos. O que fica de chato é a decepção, a perda e a mágoa, que vão levar um tempo ainda para sararem; porém, como ninguém é insubstituível -incluindo eu- a coisa é seguir em frente e tentar driblar da melhor forma possível as surpresas que o destino ainda nos reserva, sempre com otimismo e criatividade, não é mesmo? Definitivamente, não serão algumas dificuldades -perfeitamente solucionáveis- nem algumas pessoas -que podem ser substituidas- que vão atrapalhar o correr desta história. Me entristece o fato de perceber que alguns não entenderam como tudo funciona num grupo cheio de pessoas falíveis, e decidiram agir de forma egoísta e pretensiosa, melindrando-se por erros que elas mesmas cometem a cada instante, mas que não conseguem perdoar nos outros; pessoas sensascionais, com um potencial imenso, mas com problemas íntimos que precisam solucionar logo, antes que eles atrapalhem coisas bem mais importantes do que um musical... Vou ficar com saudades delas, não só artisticamente, mas também como parte deste grupo sensacional com o qual estou trabalhando este ano. Tínhamos feito um monte de planos, mas... Porém, nunca gostei de amarrar ninguém no pé da cama para que ficasse comigo, mesmo que seja alguém muito especial.
Então, é com um prpofundo suspiro de resignação e luto por esta perda, que sento aqui para digitar esta crônica.


Pode parecer uma blasfêmia, um tipo de paradoxo ou até uma apostasia dizer isto, mas estou convencida de que, mesmo que nenhum profeta, santo, anjo ou iluminado tivesse jamais existido, e que Jesus e seus feitos não passassem de uma história para oportunizar e manipular um tipo determinado de comportamento na sociedade, nada mudaria o nosso destino, os nossos anseios, a qualidade no nosso espírito ou a nossa vontade de amar e fazer o bem. Mesmo que não houvesse paraíso nem ressurreição, ou nenhum tipo de recompensa, acho que a experiência do amor seria o nosso norte, o nosso objetivo, o motor de tudo que fazemos. Com certeza escolheríamos o amor como o motivo que faria a nossa existência valer a pena e ele continuaria a ser a razão das grandes transformações em nossa existência. A semente do amor já está plantada em nós -de alguma forma misteriosa e inabalável- e o único que precisamos fazer é cultivá-la e espalhá-la ao nosso redor. Não se espera outra coisa de nós, já que o amor é a grande força criadora -não interessa o nome que lhe dermos, qual seja a sua aparência ou a história do seu aparecimento em nossa vida- e por isso nos atrai irresistivelmente, pois sabemos que a sua ação é capaz de despertar os nossos anseios mais sinceros, de tornar-nos extraordinariamente fortes e determinados, de fazer-nos pacientes, humildes e solidários, e é com este tipo de atitude que a história acontece, que avançamos e amadurecemos como raça, que nos tornamos melhores e construímos sociedades duradoras, justas, que deixamos para os que virão lições valiosas, legados em cima dos quais eles poderão continuar edificando um mundo verdadeiro e de alicerces seguros.
Se houve ou não encarnações do amor entre nós, isto não tem importância pois, na verdade, todos somos encarnações dele e por isso, por termos a sua faísca viva dentro de nós, na verdade não precisaríamos de um rosto, uma doutrina nem de milagres para acreditar no que ele é capaz de realizar e segui-lo de todas as formas, por todos os caminhos, através de todas as suas manifestações. É algo inato, instintivo em nós, mais forte do que qualquer outra das nossas inclinações, lógico, inevitável, incontestável. O amor está realmente em mim, no que de mais verdadeiro e belo possuo, e a sua chama se debate, desde meu primeiro alento, para explodir e voar ao encontro do seu fogo criador. A minha oorigem e meu destino é o amor, e isto não é uma metáfora, é algo completamente real e presente. Ele é meu motivo, meu guia, meu alimento. É a percepção, o gesto, a palavra, o olhar, o pensamemnto, a intenção primeira. Tudo é gerado e regido pelo amor, mesmo que não nos demos conta disto ou que não saibamos interpretar seus movimentos, porém, mesmo assim, é ele quem sempre prevalece acima de todas as atrocidades e equívocos que possamos chegar a cometer por causa da nossa ignorância e fragilidade, da nossa impaciência e vaidade... Acho que a nossa vida pode ser definida por esta espécie de jogo no qual o amor tenta de todos os jeitos vencer as nossas fraquezas -começando por perdoá-las- para que possamos alcançar a felicidade e a realização, mostrando-nos que, mesmo humanos, efêmeros e fadados a errar, podemos vencer os desafios e nos tornar pessoas melhores.
Na verdade, não precisaríamos seguir alguém determinado, praticar rituais ou aderir a movimentos, seitas, religiões ou irmandades (o que não deixa de ser útil, pois serve para nos tornar mais fortes e focados em nossa intenção de vivenciar o amor, já que todos os envolvidos têm um único obojetivo, o que torna as ações e pensamentos muito mais poderosos e persistentes, pois há um apoio tácito e constante de todos para que se tenha sucesso na empreitada) Bastaria acreditar e assumir sincera e totalmente o amor que já trazemos conosco. Não é uma pessoa nem uma doutrina o que realiza o milagre, mas o próprio amor em ação através de nós... Ele é "o caminho, a verdade e a vida", como já disse alguém.
É do amor que viemos, trazendo conosco as suas sememntes, e estamos aqui para plantá-las, cultivá-las e vê-las crescer e dar frutos. Jesus, Budah, Alá, Francisco, Teresinha, Gabriel... são todos nomes, rostos, vozes, corpos e corações que de alguma maneira conseguiram ir além de nós, provando que isto é possível, que existe uma porta e um caminho que todos nós podemos abrir e percorrer, desde que permitamos que o amor tome conta de nós. Então, o mérito das suas vidas não é somente fruto da pura vontade deles, mas do amor que permeava todas as suas ações e do fato deles terem sido dóceis o suficiente como para permitir que ele os guiasse. Pois o amor não é uma personificação, mas uma ação.

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