Aleluia!!!... Não se preocupem, que não se trata de uma exclamação vinda de algum tipo de êxtase, revelação ou conversão mística, mas simplesmente de uma expressão de mais pura felicidade e alívio de uma pobre mortal que recuperou, após uma semana de agonia e dúvidas, o acesso à internet... Afinal, e depois de chamar meio mundo e tentar todo tipo de soluções que não deram certo, já estava entrando em crise existencial quando reparei que a extensão telefónica que vem da sala até meu quarto tinha começado a chiar, a ficar com eco e todo tipo de ruídos estranhos até, finalmente, emudecer total e dramáticamente... E aí me ocorreu: "Se a minha net vem pelo telefone e a extensão que está em meu quarto não está funcionando, pode ser que..." Imediatamente liguei para o eletricista que, suando às bicas, fuçou todas as instalações, subiu no telhado, desparafusou tomadas, puxou cabos e arrancou pregos para descobrir que aquele cabo ultra-mega-putz que tinha colocado ano passado não era assim tão ultra-mega-putz porque tinha enferrujado e se partido em vários lugares pela ação da chuva e do sol (este cabo vai da sala até meu quarto pelo rodapé externo da casa) em menos de um ano. Então, pedindo todo tipo de desculpa e suando ainda mais, correu à loja e comprou um cabo novo e alguns metros de canaleta para protegê-lo da intempérie, instalou tudo numa velocidade digna de um super-herói e... voilá! Hoje já estou com a minha internet funcionando que é uma beleza!... Pode parecer exagero, mas quem tem computador sabe o que é ficar isolada do mundo quando a rede falha, seja porque o cabo é ruim, porque o proveedor é um lixo ou porque a gente fez alguma cagada que desconectou a coisa toda...
Mas em fim, com tudo voltando ao normal, aquí vai a crônica desta semana:
É uma coisa que sempre chamou a minha atenção e que não canso de observar: as nuvens mudam de forma e lugar acima das nossas cabeças o tempo todo e nós não nos damos conta e perdemos este espetáculo simplesmente porque não olhamos para o céu. Não somente os nossos pés estão presos ao chão, mas os nossos olhos e pensamentos também. Se prestássemos atenção veríamos por quantas transformações sutis ou dramáticas elas passam e como são belas, efêmeras e brincalhonas!... Ficam cinzentas ou prateadas, alaranjadas e vermelhas quando refletem os raios do sol, ofuscantes quando acolhem a lua, pretas e densas quando estão grávidas de tempestades. Se juntam e se desmancham em apenas alguns minutos, docilmente, segundo a vontade do vento, seu grande companheiro, criando mil fromas fantásticas e instigantes, aparecem em algum lugar, talvez durante a noite, e se esvanecem tão discretamente como chegaram; viram fiapos de algodão, vapor, miragem sobre os campos e as cidades. Amenizam o calor, anunciam a chuva, escondem os picos mais altos e passeiam pelos vales mais profundos e selvagens. Parecem sólidas esculturas e, no entanto, não possuem consistência alguma, são feito miragens, poderosas e frágeis ao mesmo tempo. Nada dizem, porém trazem infinitas mensagens para o homem que sabe como interpretá-las. Às vezes parecem tão próximas que achamos que de um pulo podeíamos tocá-las, mas apesar de todos os nossos esforços e fantasias, não conseguimos alcançá-las e levá-las para casa para fazer uma festa de algodão e esconde-esconde... Mas tudo bem, elas são democráticas e não se importam, pois não têm dono -nem querem ter- então todo mundo pode vê-las e ficar um tempão fazendo lucubrações sobre elas e seu destino ou ponto de origem.
E eu reflito, enquanto as observo, sentada num banco da praça: Não é a nossa existência, com as suas glórias e misérias, seus monstros e anjos, seus desafios, angústias, milagres, revelações e mistérios, com as suas mudanças, interrogantes e brevidade, semelhante às nuvens? Não são elas, em sua volubilidade, parecidas com nos nossos corações, que num dia estão amando e no seguinte são tomados pelo ódio? Não são estas figuras brancas feito os nossos sonhos, que de repente se desvancem; feito a nossa tristeza, que o vento da fé pode soprar para longe? Não têm esse ar majestoso quando se abrem e revelam o sol, assim como nós que, quando amamos, revelamos o melhor de nós?... Porém, para vê-las é preciso que olhemos para o céu. E para ver a nós mesmos e aos outros é preciso que olhemos para o céu dentro de nós mesmos, pois é ali que jaze a verdadeira forma das nuvens.
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