Realmente, estou comecando a cansar de andar com tanta roupa, ligando o aquecedor e dormindo enterrada em mil cobertores... E a primavera, nada de se firmar... Continuamos com céus fechados, dias frios e ventosos. Sol, de vez em quando, tímido e breve, como que com medo. Mas as árvores já estao cheias de brotos e diminutas folhas verde claro, entao me animo, porque sei que, apesar das aparências, a primavera está se instalando. É só ter paciência.
E enquanto aguardo, aqui vai a da semana:
É inacreditável: passo do chao cimentado do passeio para o caminho de areia do parque, no fim do meu percorrido, e é como se adentrasse num outro mundo. Parece como se o rugido constante e sempre crescente da cidade fosse instantáneamente engolido pela grama, os bancos e as árvores que se erguem sobre a minha cabeca e balancam a sua frondosa folhagem ao compasso do vento. É quase como entrar num templo onde nao sao os anjos quem cantam, mas os pássaros. Bem-te-vis, pardais, sabiás, pombas, todos numa armoniosa sinfonía que, de algum jeito, consegue se impôr por cima do concerto feroz e desafinado do tráfego ao seu redor, que mais parece um exército prestes a atacar a sua fortaleza... Mas eles cantam sem medo, sem mágoa, como sempre têm feito. Seus trinados, escondidos entre a folhagem, ecoam sobre nós e a nossa pressa e ambicao, como querendo nos lembrar que ainda estao aqui, que temos ouvidos para escutá-los e coracao para comover-nos com as suas melodías. Nao é que queiram que paremos, nao, eles nos acompanham enquanto passamos sob as árvores. Já sabem que estamos com pressa, cheios de problemas, irritados, frustrados, preocupados. Cantam para todos e, quem quiser escutar, que escute. Quem quiser lembrar sonhos com as suas vozes, evocar amores e reviver capítulos felizes de inocência e otimismo, que lembre. Quem quiser erguer a vista para procurá-los e esbocar um sorriso, que erga...
Os pássaros do parque cantam, apesar de tudo, do barulho e da poluicao, da pressa, do descaso e da violência. Eles cantam e nos alegram um momento. Nao poderíamos nós fazer o mesmo?...
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