segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sombras e palcos iluminados

E como prometi, aqui vai a segunda de hoje, então, se por acaso não conseguir postar nada neste fim de semana -que será o da estréia da peça de natal- não lhes ficarei devendo.


    Deitada na confortável cama do quarto do hotel, enquanto a minha aluna Solange e um amigo curtiam a festa que a organização do festival de dança oferece para os participantes, estava meditando sobre as coisas que ensino, sobre como, na verdade, elas se aplicam mais à vida do que à dança em si... Mas, e a existência não é, no fim das contas, uma grande coreografia na qual todos nós dançamos e temos o nosso papel?... Então me perguntei, curiosa: E qual seria meu papel? Ele é exercido tão somente na sala de aula, na montagem de espetáculos, nas oficinas e palestras? Sei que tem gente se perguntando por que eu mesma não subo ao palco e demonstro a minha filosofia e a minha capacidade numa performance, ou numa peça, mas  -fora o pânico desgraçado que tenho de palco- estou convencida de que, apesar de toda a minha vaidade e do quanto desfrutava os elogios e aplausos quando cantava, as entrevistas, o assédio das fãs, a admiração e o respeito e aquele tratamento preferencial e cheio de consideração que recebia, o palco não é realmente meu lugar nesta história. Acho, sim, que foi importante ter passado por ele e tudo que os holofotes e a atenção implicam, porém, na avaliação final, acho que me sinto mais real e útil, mais confortável nos bastidores, na montagem, na direção. Prefiro que a luz se reflita nos outros ao invés de em mim mesma. Prefiro a sombra da responsabilidade que apóia e encontra soluções, da criação e da direção ao brilho e interpretação de uma protagonista. Na verdade, a cada apresentação, a cada aula, percebo mais claramente que o que ensino não é para ser mostrado por mim, mas por aqueles a quem ensino. O que eu sei, mostro ao ensinar, e para isso não preciso de um palco iluminado nem de aplausos.

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