sábado, 26 de julho de 2008

Aprendendo a viver

Bom, devo dizer que hoje estou totalmente inspirada, então acho que vou postar duas crônicas ao invés de uma só. Por que estou tão inspirada? Acho que, simplesmente, porque estou viva e quero que o mundo todo saiba disso. (e aos quase 52 isso é muito bom, acreditem!) Estou cheia de atividades, projetos, apresentações, ensaios e aulas, chego em casa absolutamente podre todo dia, mas também completamente feliz e realizada, apesar de todos os empecilhos e contratempos que, no fim das contas, se comparados com o tamanho das minhas realizações, viram um grãozinho de pó. Afredito que, quando se é feliz, sincera, otimista, batalhadora e solidária, quando se colocam em ação os dons que recebemos para auuxiliar no crescimento de quem nos rodeia, quando se acredita no poder que a arte e o amor têm de transformar vidas, atraimos para junto de nós as melhores pessoas, a quem podemos ajudar e que, por sua vez, nos ajudam, pois somos todos mestres de todos. E, sabem?... Eu tenho a sorte imensa -pela qual nunca me canso de agradecer- de estar rodeada destas pessoas, todas nobres e devotadas, altruístas e generosas, bem-humoradas e ao mesmo tempo muito sérias quando é preciso e ainda cheias dessa juventude e força das quais eu já estou começando a sentir falta, pois a mente ainda vai, mas o corpo... Porém, é justamente delas que eu tiro o que me falta para levar adiante o que considero a minha missão nesta vida: ensinar e vivenciar a arte. Eu tenho a experiência, sim, mas eles têm a sede, que é o copo onde eu posso despejar essa sabedoria que, sem ele, seria totalmente inútil...Como podem ver, todos precisamos de todos e estamos íntimamente ligados por laços que nem imaginamos. A família não é somente o lar, o grupo de amigos, uma turma de alunos, uma "companhia" de teatro... Mas todos eles são ótimos lugares para se começar uma.
E, sem mais delongas (falei que estava inspirada, não falei?) aqui vai a primeira crônica de hoje, se bem o texto acima quase que vale como uma outra, né?
"Outro dia, outras imagens, outros pensamentos. A figura octogenária do bailarino de butoh Kazuo Ohno sobre o palco do teatro Ouro Verde, no Filo de 1992, que mudou a minha vida para sempre, a chegada de um violão, uma música especial no rádio (Let me out or let me in, Ben's brother), a força de vontade para vencer a preguiça do tempo livre e ligar o pc, o clique mágico, teimoso e sempre pronto, como se nunca tivesse sido desligado, que põe a minha mente para funcionar imediatamente... Sim, os objetivos ou a urgência podem modificar-se com o passar do tempo, mas o fazer continua o mesmo, assim como a vontade. Há que se adaptar a este novo ritmo, à diversidade de interesses, antes sem importância, a um pouco a mais de cansaço, à novos caminhos abrindo-se constantemente e surpreendendo-nos sem parar... Viver é um contínuo adaptar-se, transformar-se, procurar-se, redescobrir-se, porém sem nunca perder a essência. Há que deixar transcorrer o tempo e os acontecimentos e saber que se este não deu certo hoje, outros surgirão em seu lugar, não permitindo que paremos, que nos isolemos, que deixemos de fazer o que viemos fazer, e se realmente desejamos cumprir esta tarefa, devemos aprender a nos deixar levar por estas marés -por vezes bem desconcertantes e até irritantes ou cheias de decepções e dúvidas- e aguardar pelos próximos sinais, porque eles, com certeza, virão. Isto é uma verdade inquestonável. Podemos passar por espaços vazios e inertes, aparentes buracos negros em nossa existência e nossa dinâmica de criação, mas eles não duram para sempre, acreditem. Se estivermos ligados nos sinais, saberemos pescar as novas oportunidades, o novo material, o novo projeto; abriremos novas portas e estaremos sempre entrando e vivendo em novos universos, descobrindo mais um pouco sobre nós mesmos e as nossas potencialidades, pois somos, definitivamente, um livro que ainda está sendo escrito, um quadro que sempre pode receber mais uma cor ou uma linha, a escultura que ainda pode ser lapidada para ficar mais perfeita... Momentos de escuridão? De desânimo e dúvidas? Aquela eterna pergunta pairando sobre as nossas cabeças: "E para quê?", sempre sem uma resposta definitiva? A grande vilã, a terrível tentação da desistência, o precipício medonho, a sombra, a paralisia, o nada rondando e minando nossas forças, matando a nossa inspiração, sujando e desvalorizando o nosso trabalho?... Bem, às vezes ela pode mesmo tomar conta, derrubando-nos com a sua força monstruosa, e pode nos manter anulados durante algum tempo ( o que, no fim das contas, acaba resultando numa experiência reveladora que pode nos mostrar quem realmente somos) mas o fato de saber quem somos e que estamos aqui por um motivo bem específico -que inclui passar por este tipo de transe desestruturador, acreditem ou não- é o que nos ajuda a ficar de pé novamente e continuar com a nossa missão. Eu não sou diferente dos outros que passam pelo mesmo, então me permito um ou dois dias de tristeza e apatia completa para logo em seguida erguer a cabeça e retomar a vida de forma positiva e criadora. Esta é, por sinal, uma das características positivas que estes quase 52 anos me trouxeram e a que mais aprecio, pois me transformou numa verdadeira lutadora (se vocês vissem como eu era cagona! Era mesmo uma vergonha para a minha raça!) numa vencedora, numa eterna otimista diante dos maiores problemas ou desapontamentos. Nâo que os maus momentos deixaram de existir (tenho a minha própria cruz para carregar), mas acho que finalmente aprendi a lidar com eles e a tirar algo de positivo dos nossos encontros...
Parar, observar, pesar, refletir, procurar saídas, tomar atitudes construtivas, continuar a aprender, diversificar, aceitar as mudanças, abandonar o lastro, criar novos espaços para novas experiências. Crescer, crescer sempre... Assim é que aprendi a viver."

2 comentários:

passarinho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
passarinho disse...

eu acho que td isto que foi escrito aindá é pouco para descrever ésta mulher...mãe...professora...guerreira...amiga...uma pessoa unica...
São todos estes trabalhos,projétos e idéias que te identificam,e que a destacá entre os outros....continue assim....
vou te contar uma coisa,segredinho eim rs,antes eu achava teatro um lixo,coisa de bicha,raramente assistia péças,as vezes forçado a assistir,a minha vidá éra beim diferente,em todos os sentidos,o grilo foi um que mi obrigou a ir =P...más depois da primeira aula que fiz com vocÊ...me apaixonei,a maneira que vocÊ lhidá com os alunos,os exercícios,até das broncas eu gosto rs...eu sempre gostei de ARTES...em partes,desenhos,esculturas,musica,danças...mas o teatro não fazia parte délaas...
através de vc eu aprendi a gostar
foi surreal,uma mudança inimaginavél na minha vida,
eu conto as horas para ir a suas aulas!!!adóro...
estou aprendendo muito com vc(vc nem imagina o quanto)...
através de suas palavras eu penso..e reflito eim como será a minha vida daqui para frente...coisa que nunca tinha feito antes...
vc me ensinou,e ainda está me ensinando,muita coisa...antes eu éra um compléto estranho...
sempre tive pensamentos,idéias,projétos e tal mas não sabia como expressalos....
isto foi uma das tantas coisas que aprendi com vc...
Não sei como será a minha vidá daqui a digamos uns 30 anos,más espéro que eu continue emvolvido neste mundo mágico do teatro...
e acredite...mesmo que não estejá...vou me lembrar de vocÊ,de tudo que me ensinou...

obrigado...