sábado, 25 de outubro de 2008

Paciência

Um día de tremendo calor, mas aqui em meu quarto, com a música do rádio no fundo e meu silencioso ventilador ligado, está suficientemente fresco como para postar mais uma crônica sem derreter diante do computador... Perdi um bom tempo e uma grande dose de paciência arrumando os erros de uma encadernação -que vou ter de refazer-, mas não o bastante como para acabar com a minha inspiração ou a vontade de escrever... Bom, acho que nada poderia tirá-la de mim, para ser sincera. Acho que é a coisa mais importante e gratificante em minha vida e não pretendo que nada me impeça de continuar fazendo-a... Nem sequer o trabalho desastrado de uma balconista de papelaria que não sabe fazer seu serviço!...
Então, aqui vai a de hoje:
Há uma coisa que, sem dúvida, deve ser aprendida e exercitada antes de todas as outras: a paciência. Sem entendê-la ou cultivá-la se torna realmente muito difícil atingir satisfatóriamente qualquer meta. Sem paciência não se produz, não se aprende, não se aprimora, se perde o momento certo para cada ação. Sem paciência não se percebe, não se assimila nem se chega à conclusões reais e muito menos à perfeição (isto dentro do possível, é claro). Não sei por quê as pessoas têm tanta pressa para tudo! O que esperam? Pular etapas para chegar antes? Ganhar tempo? Aproveitar mais a vida? Mas, e o que seria "aproveitar a vida"? Terminar antes que os outros?... Tem quem começa já querendo acabar, que inicia um trabalho pensando no próximo sem perceber que desse jeito está deixando passar a alegria e o aprendizado da experiência presente. Assim, nenhuma conquista é realmente desfrutada, assimilada, incorporada à existência, pois passa tão velozmente que mal conseguimos percebê-la no afã de seguir para o próximo desafio. Estas pessoas não estão nunca aqui, agora, mas sempre ali adiante, correndo para chegar primeiro na seguinte parada que, às vezes, nem sabem qual é ou se vai realmente acrescentar alguma coisa ao seu crescimento. Mas, eu me pergunto: Por que a pressa? A criação não tem tempo limite, não é uma corrida, não está com uma espada sobre as nossas cabeças ameaçando despencar se não cumprimos os prazos!... Por que as pessoas de hoje desprezam a perseverança, a dedicação, a reflexão, o processo de aprendizado e as pequenas experiências que, no fim, são as que conformam o grande resultado, o sucesso, a lição? Em troca do quê? Uma sensação ilusória e efêmera de mais tempo? Mas que tipo de tempo é esse que ganham? Qual a sua qualidade? Engolido às pressas nem o seu sabor consegue-se sentir. Num piscar de olhos já foi e só restou um vazio, um estado de perpétua inconsciência, de ausência... As pessoas estão sem paciência para viver, para ser, para estar, esta é a minha conclusão. Têm tanto medo de perder o tempo das suas existências -que a cada dia parecem mais breves e sem sentido- de deixar alguma coisa importante para atrás, de não ganhar o que quer que seja o prêmio no fim desta corrida, que em seu empenho por abranger o máximo de atividades durante a sua passagem pela terra, acabam por perder a maioria das lições que deveriam aprender com elas ou, então, as vivenciam infimamente, pois não têm paciência suficiente para chegar até o fim delas, sempre preocupados com o que vem a seguir.
É por isso que a primeira coisa que sempre digo a todos meus alunos -independentemente da disciplina em que estejam trabalhando- é que, antes de mais nada, precisam desenvolver dentro deles a arte da paciência, aquela necessária para observar uma árvore crescer, pois sem ela não chegarão a lugar algum. Falo para eles que o cultivo desta virtude nos leva automaticamente à prática de outros conceitos vitais como a percepção, a compreensão a serenidade, o diálogo e a compaixão. Temos que aprender e aceitar que as coisas terminam somente quando seu ciclo está completo -e tudo tem um ciclo- e que não adianta empurrar o rio, porque ele corre sozinho, como diz o grande psicólogo Karl Jung. Isso inclui as nossas existências também e é um fato que não pode ser alterado não importa o quanto nos incomode, nos irrite ou nos amedronte. Todo processo precisa ser vivenciado em sua totalidade para que dele se obtenha alguma conclusão válida e duradoura, que acrescente mais um tijolo à construção de nós mesmos.

2 comentários:

D Z disse...

Olá Paz,

E como somos impacientes e não conseguimos esperar que as coisa aconteção naturalmente... Muitas vezes nos arrependemos depois, mas daí já é tarde...

Penso que quanto mais maduros vamos nos tornamos, mais capazes vamos sendo de conviver com a paciência...

Uma ótima noite para vc...

Bjs!

Dany Z.

Paz Aldunate - Palavras disse...

Olá, Dany:
É verdade, parece que somente com a chegada da idade -e os tombos- é que começamos a apreciar e praticar verdadeiramente a paciência e tudo que ela traz de positivo, mas seria muito bom se fóssemos capazes de fazer isto mmais jovens. Com certeza sofreríamos bem menos!...
Abração para você!
PAZ