sábado, 2 de agosto de 2008

Tudo e nada

"A vida no vale nada. A vida vale tudo. Estes dois opostos encontraram-se na minha mente logo após desligar o celular, enquanto tentava segurar meu coração e procurava uma cadeira para sentar. Vradson acabara de me contar o motivo pelo qual Alison, um outro aluno, não havia comparecido à aula de domingo. Ele tinha falecido naquele dia mesmo, num acidente de carro que decepara a sua cabeça... Enquanto Vadson falava, com a voz embargada, a imagem do Alison, gordo, sorridente e muito entusiasmado durante a sua primeira aula, vinha uma e outra vez à minha cabeça, que se negava a aceitar a notícia. Ele era tão simpático, tão alto-astral, com aqueles olhinhos brilhantes e infantis! Estava tão cheio de planos, disposto a percorrer novos caminhos, a experimentar novas sensações, a aprender e melhorar seus dotes de ator! A gente até brincou com ele ao vê-lo suar rios e estralar as juntas durante os exercícios, assegurando-lhe que com certeza iria perder alguns quilinhos após umas semanas de aula... E ele ria, bem-humorado, e concordava conosco. Eu a té escrevi um monólogo para ele e iria lhe propor, naquele domingo, que o montasse para a nossa apresentação em agosto!... O texto tratava de um rapaz que morre e se encontra com Deus, não sem antes passar por alguns sustos e negociações e receber algumas explicações e revelações... Meu Deus, que ironia! Me arrepio só de lembrar...
"Ninguém morre na véspera", diz o ditado, e é a mais pura verdade. Por isso a vida não vale nada, porque não sabemos como nem quando vamos perdê-la, e vale tudo, pois por essa mesma razão, devemos aproveitá-la a cada instante dando o melhor de nós mesmos, desfrutando e abraçando com paixão e honestidade cada pequena oportunidade que ela nos oferece. Eu não sei se amanhã, apesar de todos meus cuidados, vou atravessar a rua e um caminhão vai passar por cima de mim e me transformar numa mancha no asfalto, ou se, daqui a cem anos, ainda vou estar por aqui zanzando, escrevendo em meu blog e dando as minhas caminhadas matinais para abaixar a glicemia e buscar inspiração... O Alison sabia? Desconfiou de alguma coisa no instante em que entrou naquele carro?... Com certeza, não. E de um segundo para outro, sem nenhum aviso, todos seus planos, até os mais imediatos, transformaram-se em pó, deixaram de existir na história da humanidade. Sua existência parou ali, seu corpo se foi, a velhice não o alcançou. Nâo vai mais vir na aula e nos encantar com a sua alegria e disposição, não o veremos melhorar a sua performance, fazer devoluções, improvisações, construir personagens, decorar textos ou dar idéias para uma montagem... Nem tive tempo de anotar seu sobrenome na lista de chamada, a sua matrícula ficou sem pagar. Só tenho a sua imagem generosa e algo desengonçada se movimentando pela sala - suando às bicas e limpando o rosto com a manga da camiseta- e o som da sua voz, ainda a de um adolescente, falando sobre a sua amiga que mora no Japão -ex aluna minha também- e das peças que encenava quando fazia parte do grupo de teatro da sua igreja.... Nada mais me resta dele. Nada dele ficou para ninguém, a não ser a sua lembrança... Mas, e não é somente isto que restará de nós, afinal?"

Um comentário:

Unknown disse...

Sofy: Hola Cuqui, me quedé sin palabras después de leer tu última crónica...justo cuando pensaba en la posible suerte de toda la humanidad, si iriamos a sobrevivir como especie o no, y si no fueramos a lograrlo qué sería de todas las cosas que como humanidad hemos intentado construir, dónde quedarían las maravillosas canciones que hemos cantado, las obras de arte que hemos pintado, las obras literarias que hemos escrito. Lloraba hoy por la posible desaparición de todos nosotros de la faz del Universo y me preguntaba dónde irian a para todos los sueños que hemos soñado y si quedarían trazas de la raza humana guardados en algún rincón de este Universo, si algún recuerdo nuestro permanecería, y rogaba, y aún ruego porque nuestra memoria en el Universo no desaparezca. Hay tantas cosas hermosas que hemos creado a pesar de las otras terribles que también hemos llevado a cabo. Hay tanta gente valiosa, como tú y como tantos otros que realmente vale la pena que sobrevivan y que su recuerdo no se pierda en este vasto mar de vida que llamamos Universo. Todo Y Nada.....esperemos que sea Todo...

Te ama,
tu hermana